quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Weapon of Choice

"Prá que perder tempo
Desperdiçando emoções
Grilar!
Com pequenas provocações
Ataco, se isso for preciso
Sou eu quem escolho e faço
Os meus inimigos...

Saudações, a quem tem coragem
Aos que tão aqui
Prá qualquer viagem
Não fique esperando
A vida passar tão rápido
A felicidade
É um estado imaginário..."


A vida é curta. Ao menos é o que dizem todos os meus amigos mais velhos que eu. Eles me contam que um dia acordaram, olharam no espelho e repararam que 30, 40, 50 anos... Passaram como um raio. E é verdade... Esses dias me olhei no espelho e vi que pra mim também já tinham passado 30. Coisa que pouca gente nota quando eu estou no meio da gurizada, de bermudão e boné virado prá trás.

É rápido mesmo. O quanto antes a gente entender isso, mais cedo virá a inevitavel conclusão de que não dá para ficarmos perdendo tempo com "teorias", "filosofias" e outras "ias" que em nosso íntimo costumamos acalentar.

Então o que fazer? Por onde começar?

Na verdade, é simples. Começamos buscando conselhos de leis mais concretas que filosóficas: Ao invés de escutarmos teorias de pessoas que não fazem nada, vamos dar uma olhada na física:

O duelo: Arrancada
As regras: Percorrer os 402 metros em menos tempo que o adversário
Arma: Seu automóvel

Do ponto de vista da física, o que é então a arrancada?

Basicamente é percorrer uma dada distância, no menor tempo possível. Assim, estamos lidando com duas coisas diferentes: Trabalho e potência.

O significado da palavra trabalho, na Física, é diferente do seu significado habitual, empregado na linguagem comum. O trabalho, na Física é sempre relacionado a uma força que desloca um corpo de uma determinada massa (ou um carro, no nosso caso).

E a potência é o trabalho realizado durante um determinado tempo. Um carro é mais potente que o outro (idêntico) quando ele arranca mais rápido e percorre uma dada distância num intervalo de tempo menor do que o primeiro.

Aí então já verificamos as variáveis mais importantes na arrancada, do ponto de vista físico:

Massa = peso do carro
Força = potência do motor do carro

Dessas duas simples variáveis é que surge toda a complexidade do esporte. Mais peso requer mais energia para realizar o trabalho no mesmo tempo. Assim um carro mais potente e pesado, pode realizar o trabalho tão ou mais rapidamente que um carro leve e menos potente. Porém mais potência significa que mais força será aplicada em todos os sistemas do carro, forçando-os mais. E em última instância, significa que mais força será aplicada ao solo através do pneu.

Daí decorrem outras duas variáveis muito importantes:

Tração: Significa a grosso modo, a capacidade que os pneus tem para transmitir a força para o solo. Quanto mais largos e macios, mais tração os pneus fornecem e mais força é transmitida para o solo. A capacidade de tração de um determinado pneu está ligada à diversos fatores, mas sendo os mais importantes, justamente o peso do carro e a força aplicada: Quanto mais leve o carro, menos tração é exigida. E quanto mais potente é o carro, mais tração é exigida do pneu. Se for transmitida mais força ao pneu do que ele consegue tracionar, ele irá deslizar e a força será dissipada através do atrito, convertendo a energia mecânica em calor. "Fritar" os pneus, é literalmente desperdiçar energia.

Quebras: Todos os sistemas do carro possuem um limite. Quanto mais força - ou potência - aplicamos nesses sistemas, maior o risco de um colapso. Motor, caixa de transmissão, semi-eixos, juntas homocinéticas e até os parafusos das rodas são sujeitos a um enorme esforço em uma arrancada. Quanto mais leve for o carro, menor a chance de quebras e consequentemente, menos necessidade de reforços nesses sistemas. Quanto mais pesado, é justamente o oposto.

Então, tendo dito tudo isso, fica fácil de perceber que o carro ideal para arrancada é o mais leve e o mais potente possível, com pneus que sejam adequados para movimentar o peso do carro através dos 402 metros sem desperdício de energia, realizando o trabalho da forma mais rápida possível. Isso tudo é o que você precisa saber para escolher e começar a aprimorar a "arma de sua escolha", ou weapon of choice, como na música do Fat Boy Slim.

Bem, após tanta física, até podemos extrair uma lição filosófica:

"Uma vez que você aceitou o duelo, escolheu a sua arma e foi derrotado, você está morto".

E morto não fala. Ao menos não deveria, afinal de contas, enumerar os defeitos do seu carro na esperança de justificar a sua derrota ou de diminuir a vitória de seu adversário, é no mínimo a atitude de um mau perdedor. De fato, a culpa não é dele se você escolheu ir à luta armado com um canivete.

Não se perca em um mar de regras intrincadas, não se deixe abater por filosofias derrotistas, não dê ouvidos ao menosprezo daqueles que não tem a coragem para sair da arquibancada. Tenha você a ousadia de ir para a pista e fazer o melhor que puder, pois o denominador desse esporte é muito simples:

Você, seu carro, seu dinheiro e os 402 metros.

Tudo o mais que se interpuser entre você e a arrancada, é mera burocracia.

4 comentários:

  1. Vicente:
    Gostei muito do teu texto.Principalmente quando dizes: Não se perca em um mar de regras intrincadas, não se deixe abater por filosofias derrotistas, não dê ouvidos ao menosprezo daqueles que não tem a coragem para sair da arquibancada. Tenha você a ousadia de ir para a pista e fazer o melhor que puder, pois o denominador desse esporte é muito simples:
    Concordo com cada palavra!
    Então, viva a ousadia! E a pista que nos espere!
    Nilva

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  2. Meu amor, gostei muito do post...teus textos sempre geram muitas reflexões.

    Gosto das tuas analogias, metáforas, elas tornam teu texto mais amplo, transcede o mundo da Arrancada.

    Beijossss

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  3. Cara, magnifico, texto espetacular, nota dez.
    Eu como tu tambem, que corremos, eu me vi nesse teu texto, vi minha escolha, os oponentes de pista e de fora dela, bons e maus resultados, vitorias e derrotas.
    Magnifico novamente cara, meus parabens, os teus textos são otimos de ler, otimos mesmo.

    Abração!!

    TD MWT 248

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  4. Obrigado pelas críticas pessoal. Espero que continuem gostando.

    Abraços!

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