segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Aprendendo com o Professor



Ao final da 5a etapa da AD o campeonato estava quase decidido. Somente três pilotos tinham chance de ganhar, mas um deles já estava com uma mão e meia na taça. Rafael Andreis tinha a vantagem nos pontos e só precisava dar suas três passadas e ganhar uma bonificação, em qualquer uma das classes de tempo. Contaria ainda com a ajuda de seu irmão Fabio Andreis, que iria correr para fazer proteção com o outro carro da equipe, o GSX Stock, que é nada mais nada menos que o carro recordista da AD desde 2007, com o tempo de 10,8, além de ter virado tempos na casa dos 10,4 em sua nova configuração, na Copa Brasil do Velopark.
Da forma como os irmãos Andreis configuraram sua estratégia, bastava o Eclipse de Fabio vencer a 11 e o de Rafael vencer a 12 e o título seria de Rafael. O único risco ainda seria se RaFASTra ou Fontes vencêssem a 10 e ainda assim emplacassem uma melhor reação, o que era duplamente improvável. O título era da equipe GSX, bastava fazer tudo certo.

O segundo colocado, Sérgio Fontes também tinha escolhido sua estratégia. Tendo que batalhar contra três carros muito fortes (os dois Eclipses e o Astra) na disputa pela 11, Fontes optou por correr menos riscos e não usar seus pneus M/T, atacando assim de cheio a classe 12, onde tinha enormes chances pois seu Gol 96 é constante nos 11 altos e 12 baixos com os pneus de rua. Assim controlando a reação ele seria favorito na 12 e ficaria observando o Astra e os Eclipses se degladiarem na 11. A princípio podia parecer uma estratégia sem sal, sem ousadia e ainda por cima arriscada, já que  tudo dependia da vitória de RaFASTra sobre os Eclipses, ou de um tropeço do time GSX. E esse risco era parte da estratégia de Sérgio.

Rafael RaFASTra Pires estava na pior situação dos três. Não podia vencer contando com seus próprios resultados mesmo se desejasse, pois mesmo que Rafael Andreis não conseguisse vencer a sua classe de tempo, abrindo espaço para o Astra, Rafael ainda perderia para Sérgio Fontes que havia aberto uma diferença suficiente de pontos na etapa de Guaporé, para ganhar o campeonato vencendo na 12, mesmo que RaFASTra vencesse a 11. A única estratégia possível para RaFASTra era entrar na pista e dar o máximo de si e de seu 888 para vencer na 11, contando com vitória de qualquer outro piloto na 12 e rezando para que Sérgio Fontes e Rafael Andreis não vencêssem a 10. A estratégia era a famosa "Fé em Deus e pé na lata".

Começa a prova: A equipe GSX está desde cedo no Velopark e o Eclipse de Rafael Andreis entra na pista pela primeira vez às 19:43. Alinha e espera o pinheirinho. Rafael atrasa sua reação para 0,618. Esse tempo já é válido e ele está cauteloso. Não quer abrir mão da 12. Sabendo que não cairá de classe com uma reação dessas, o Nene senta o pé no bucho do Eclipse e faz 1,7 de primeira parcial. Segue sem problemas e marca tempo abaixo dos 5 segundos nos 100 metros e 7,500 cravados nos 201a 166km/h. O carro parece estar patinando mais do que o normal.. Fabio Andreis sabe que o carro está com mais potência e está atento no alinhamento para ver as parciais finais. Mas há um problema com o motor do Eclipse. Ainda assim o carro cruza os 402m em 11,552 a 178 km/h, apenas 12 km/h a mais do que nos 201. Não foi uma puxada limpa, mas de qualquer modo era uma ótima candidata na 12, pois o tempo total foi 12,170.

Sérgio Fontes vai para a pista de radiais, tentar bater esse tempo, mas só consegue 12,5 de tempo total.

Enquanto isso Fabio e Rafael Andreis fazem tudo para colocar o Eclipse street de volta na pista, mas o motor havia se entregado. A junta havia rompido e o motor estava com compressão em apenas dois cilindros, misturando água e óleo. Nene tinha o melhor tempo na 12, mas precisava dar mais puxadas, ou isso não seria o suficiente. Então numa demonstração de raça e determinação Os irmãos decidem ir para o sacrifício e colocam o carro na pista, mesmo seriamente avariado. Rafael decide dar tudo em busca da bonificação de reação de 15 pontos. Eles não estavam fora da briga ainda!

Todos estão perplexos ao verem o Eclipse falhando e fumando muito no alinhamento.  Parecia uma daquelas cenas do filme Rocky, o lutador, quando o garanhão italiano já não aguenta mais apanhar, mas novamente se levanta para encarar mais um round. Ao cair do pinheirinho Nene joga sua última cartada, arrancando no amarelo. O carro seriamente avariado emite uma cortina de fumaça inacreditável e arranca, porém não se move com o seu ritmo habitual. Ainda assim Nene consegue uma reação de ótimos 0,044. O carro se arrasta pela pista em péssima condição, mas Nene não desiste. Qualquer tempo abaixo de 27 segundos vai somar pontuação, que pode definir tudo no final. Infelizmente o Eclipse marca exatos 27,206 na última fotocélula, sofrendo a apenas 69 km/h. É o fim para o Rafael Andreis.

É a vez de RaFASTra ir para a pista. Ele dá o máximo do 888 e vira bons 11,410. Até então, o melhor tempo de pista do dia, mas sua reação leva péssimos .443 e o tempo total fica em 11,853. Incrivelmente , com o Eclipse fora de combate e com Sérgio Fontes andando na 12 e não conseguindo bonificação, ele é o campeão naquele momento! Mas ainda há muita prova pela frente e os adversários podem baixar esse tempo.

E não demora até que Fabio Benassi entre na pista calçado com os M/T. "O louco" Benassi vem com tudo para baixar seus tempos e se conseguir um bom resultado, pode roubar a bonificação de RaFASTra, tirando-lhe o campeonato. Benassi aguarda o pinheirinho e sai de 1,9 nos 60 pés. 5,2 segundos depois ele está na fotocélula dos 100 metros, tempo idêntico ao de RaFASTra! Passa então nos 201 metros a 165 km/h e 7,7 segundos. Rafastra está definitivamente em apuros, pois o Gol vem  igualando todas as suas parciais! Mas o carro de Benassi não rende tão bem em alta e acaba perdendo 2 décimos nos 201 finais, cruzando a última fotocélula em 11,602. Só que a reação de Benassi foi de 0,229 e o tempo total do Gol é 11,831, apenas dois centésimos de segundo mais rápido que o Astra 888.

É hora de o 888 voltar para a pista, em mais uma tentativa. O pinheirinho desaba e o Astra sai de 2,0s, nos 60 pés, 5,2s nos 100m, 7,7s nos 201 e 11,4s novamente nos 402, a 218 km/h. Dessa vez a reação é de .247 e RaFASTra derruba o tempo de Benassi, com um total de 11,684. A bonificação e o campeonato voltam para o Astra. Ao menos provisoriamente...

Sérgio Fontes continua de radiais caçando a vitória na 12 para tirar o título de RaFASTra, mas sua segunda tentativa também é em vão e ele não consegue baixar o tempo do já falecido Eclipse de Rafael "Nene" Andreis.

22:20 é a hora em que o Eclipse Stock pilotado por Fabio Andreis, o famoso "Gringo", entra na pista para tentar roubar a 11 de RaFASTra, única forma de seu irmão tentar manter o título. O carro de Fabio é um adversário de peso, com seu melhor tempo cronometrado na casa dos 10,4. Mas naquele momento estava sofrendo com problemas de embreagem. Fabio sabe disso e entra na pista para tentar andar nos 11, com uma tocada mais cuidadosa. Ao lado dele ninguém menos do que Rafael Pires e seu astra 888. para defender sua bonificação. Uma puxada lado a lado que poderia decidir o campeonato! 

Astra e Eclipse alinhados, cai o pinheirinho e o Eclipse pula na frente! Gringo enfia uma reação de 0,085 enquanto RaFASTra fica para trás com lentos 0,509. Gringo ganha quase meio segundo na largada e mais 2 décimos nos 60 pés, com 1,7 para o Eclipse e 1,9 para o Astra. É quase um segundo de vantagem após apenas 18 metros! Mas a embreagem não aguenta e nos 100 metros o 888 já está na frente, concluindo a puxada outra vez na casa dos 11,4, mas fechando com um tempo total de 11,9 por causa da reação ruim. O Eclipse fecha em 13,0 de pista e 13,1 de tempo total.

A pista fecha às 22:30 e agora somente os carros que estão lá dentro poderão dar suas últimas puxadas. Os irmãos Andreis estão fora do páreo e o Gol de Benassi está nos boxes, consertando uma ponta de eixo quebrada. Rafael Pires já sente o gosto da vitória, mas o Gol 96 de Sérgio Fontes ainda tem mais uma passada. Sérgio tira a sua última carta da manga e o Gol aparece no alinhamento calçado com os M/T. O carro ainda não fez nenhuma passada limpa com esses pneus no Velopark e ninguém pode prever o resultado. Mas ao colocar os pneus drag, Fontes automaticamente desiste da classe 12 e terá que vencer o melhor tempo de RaFASTra na 11. Se o carro não empurrar bem de alta com os pneus ou houver qualquer outro problema, não há como voltar atrás na classe de tempo e nem como tentar mais uma puxada, pois a pista já estava fechada!

Sérgio Fontes, o "professor", concentra-se no alinhamento, pois sabe que só tem uma chance. Aquece os M/T e alinha cuidadosamente o Gol. Nada pode dar errado. Benassi já havia quebrado uma ponta de eixo poucos minutos antes. Homocinéticas, caixa de câmbio, diferencial... Tudo terá que aguentar, ou o trabalho de um ano todo irá por água abaixo em poucos segundos.
Sérgio havia pensado cuidadosamente essa estratégia. Ele venceria na 12 com os radiais, e se necessário fosse ele usaria os M/T na hora do tudo ou nada. Foi uma estratégia inteligente, mas agora a hora do tudo ou nada havia chegado. O carro iria aguentar a saída com os M/T? Com pouco treino com esses pneus no Velopark, será que a saída seria boa o suficiente? E o carro iria corresponder em alta com o maior arrasto?

Quando acendeu o primeiro amarelo do pinheirinho, Sérgio sabia que essas perguntas todas seriam respondidas em poucos segundos. O pinheirinho cai e Fontes esquece seu conservadorismo, arriscando numa reação abaixo de 0,100. A esperança dos fãs da VW não morre nos 60 pés de 1,797. Ao passar nos primeiros 100 metros, o tempo é de ótimos 5,0, quase 3 décimos mais rápido que o Astra. A fotocélula dos 201 revela o tempo de 7,466, mantendo a diferença de 3 décimos. E finalmente o Gol 96 passa na fotocélula final a 220 km/h no tempo de 11,130 correspondendo bem de alta e mantendo a diferença na casa de pouco menos de 3 décimos.

O único que pode bater seu tempo é Deme Coradi.  E não é que ele entra na pista "nos acréscimos do segundo tempo", às 22:48? Deme passou o dia com problemas e sua equipe saiu do Velopark para Lajeado, com o objetivo de buscar um distribuidor. Deme já havia dito que vinha para baixar tempo nessa última prova do ano. Seu melhor tempo é 11,0 e uma puxada abaixo disso poderia complicar a vida de Sérgio Fontes, tirando-lhe a bonificação. Agora o distribuidor estava de volta e instalado. pronto para entrar na confusão!

Deme quer classificar para o TOP16 e não vai dar moleza. Ele observa o cair do pinheirinho e não força na reação, mas ainda assim marca 0,244. Os 60 pés de 1,797 são idênticos ao do Gol 96, mas o Corsa se movimenta muito rápido. O resultado é que ele alcança os 100 metros antes dos 5 segundos, em 4,954. Todos já se preparam para o temporal quando o corsa atinge a fotocélula dos 201 em 7,504, mas o Corsa apresenta um problema em alta e para de acelerar, passando  os 402 na casa dos 13 segundos a apenas 122 km/h. Para sorte de Fontes, apesar do esforço da equipe Columbia, a puxada foi "fogo de palha".

Assim o Professor encerrou sua aula de estratégia, constância, frieza e performance, levando a taça pra casa e tornando-se o único bi-campeão da AD. A sorte também demonstrou estar ao lado de Sérgio, que logo após sua puxada perfeita, teve um problema na válvula de alívio e não conseguiu mais repetir tempos nem parecidos no TOP16. Mas isso só prova que além de talento, habilidade, autocontrole e estratégia, um grande campeão também precisa poder contar com a sorte de vez em quando!

Parabéns Sérgio Fontes, o Professor de arrancada da AD!

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