Foto retirada de: http://www.flickr.com/photos/luucasb/
Tenho interesse por todos os esportes, principalmente os menos convencionais. Mas não necessariamente interesse em participar de provas. Minha disposição maior é observar como são conduzidas as modalidades e presenciar as provas para sentir o clima, observar os participantes, conhecer um pouco da emoção de cada uma delas, na condição de espectador leigo. E ao final de tudo isso, tentar fazer uma comparação de cada modalidade com a arrancada, desse mesmo ponto de vista.
Ontem subi a serra em direção ao Ninho das Águias, em Nova Petrópolis para assistir uma prova de downhill de bicicleta. O trajeto pelo trecho da BR116 conhecido como "rota romântica" é uma atração à parte, o que vale talvez até uma postagem no futuro. O Ninho das Aguias é um clube de vôo livre no cume de um belo morro, com mata nativa, área aberta para eventos, um quiosque de alimentação e uma vista de tirar o fôlego.
Quanto à competição, nada entendo de downhill, por isso fui acompanhado de um amigo que pratica o esporte em caráter amador. Através dele tive contato com alguns competidores e fomos conhecer o percurso. Tratava-se de um trajeto extremamente acidentado, de aproximadamente um quilômetro de extensão. As dificuldades naturais foram combinadas a rampas e obstáculos artificais e também alguma preparação da pista para o melhor rendimento dos atletas. Era difícil até andar pela trilha e eu não conseguia imaginar os pilotos descendo por ali em alta velocidade com as bicicletas.
Muitos pilotos foram prestigiar a prova que era dividida em várias categorias, ditadas pela idade dos competidores, exceto por três: A "elite", na qual corriam os melhores pilotos selecionados através de critérios técnicos da FGC, a "estreantes", também regida pelos tais critérios técnicos e a "rígida", que era para pilotos que competiam com bicicletas sem suspensão traseira, o que os deixava em tremenda desvantagem naquele terreno.
Dessa forma, a prova era acessível a diversos grupos diferentes com chances de vitória, com tempos variando entre 1 minuto baixo para os pilotos da elite e em alguns casos mais de 4 minutos para os pilotos das categorias infanto-juvenil ou master c, na qual competiam pessoas nascidas antes de 1959.
A prova em si é impressionante por diversos aspectos. Os pilotos mais experimentados realmente fazem coisas inacreditáveis com as bikes. A destreza e coragem desses caras é incrível, exatamente como vemos na TV. Mas o que não costuma aparecer na tv e não é menos impressionante, são as categorias mais lentas, onde correm literalmente "pessoas comuns". Ver a meninada de 10, 12 anos botando pra baixo naquela pista tremendamente difícil e arriscada me chamou muito a atenção.
Os espectadores, quase em sua totalidade apaixonados pelo esporte e conhecedores das regras e todos seus pormenores, ficam na trilha, assistindo tudo. De lá é possível ver que a gurizada vem descendo meio desajeitada, freiando, bloqueando roda no barro e totalmente concentrada no que fazem, sem tempo para esconder o medo em suas fisionomias. Mas eles descem, aos trancos, desajeitadamente, mas estão lá. Fazendo parte, levando adiante o esporte e esforçando-se para fazer o melhor.
É interessante também ver o grande número de competidores com mais de 40 anos, mais experientes, mais cautelosos para não se quebrarem todos - afinal, segunda feira é dia de trabalho - mas também lá, na chuva, no barro e metendo pra baixo, praticando o esporte que amam.
O pessoal das bikes rígidas é uma atração à parte. Somente descer aquela trilha para mim já era um assombro. Fazer isso com uma bicicleta inadequada então... Mas surpreendentemente esses caras passavam muito forte. Alguns desciam pedalando e realmente baixando tempo, vencendo facilmente alguns competidores com bicicletas muito mais caras. Quem não conhece muito desse esporte pode se surpreender ao descobrir que uma bicicleta de alto padrão com suspensão traseira pode custar facilmente mais de 15 mil reais e nem todo mundo que ama o esporte tem condições de arcar com essa grana. Então é isso aí: Quadro queixo duro e o amortecimento é nos joelhos!
E claro, como não podia deixar de ser, encontrei diversas pessoas do meio que ficavam conversando sobre marcas famosas, bikes importadas, teorizando sobre o tipo adequado de pneu para aquelas exatas condições de pista, mas que quando indagadas sobre o porque de não estarem competindo com suas superbikes, sempre tinham alguma desculpa. Essa galera super teórica, equipada, descolada e INERTE não é exclusividade das provas de arrancada.
O esporte é assim mesmo. Alguns vivem a coisa com vontade, com paixão e mergulham nesse universo com a alma. Outros preferem andar em volta, sentir o ambiente e nunca conseguem de fato aproveitar a intensidade da modalidade, da competição e o crescimento pessoal que a prática do esporte nos traz com as vitórias, derrotas, alegrias e decepções.
De certo modo isso é triste, pois seja na arrancada, no downhill ou na vida, aos primeiros serão reservadas as melhores e mais verdadeiras recompensas e aos outros... Bem, os outros serão como aquelas crianças sem dinheiro que babam na vitrine da confeitaria, saboreando os doces apenas em sua imaginação.
Eu diria que as rígidas são "rabo-duro", hehehehehe.
ResponderExcluirMas realmente é assim em QUALQUER esporte. Já participei de competições de tiro com carabina de ar (a popular "espingardinha de chumbinho") e era a mesma coisa: gente com carabinas top de linha, que custam R$5.000 não acertando nada e culpando o vento, a idade, a luneta, pouco gás, etc e uma gurizada que vive de mesada e tem uma carabina de R$600 ganhando 2o e 3o lugar. Muda o esporte, mudam os nomes e mudam os brinquedos, mas os personagens são os mesmos.
As pessoas precisam de desculpas para não fazer as coisas.
ResponderExcluirPra quem não quer participar;
O dia nunca será perfeito.
A pista nunca será a ideal.
E o projeto MEGABLASTERTWOMILLIONDOLLARSENGINERINGPOWERED
Sempre estará inacabado, e só poderá aparecer quando ficar como o dono quer, ou seja nunca.
Quem quer faz, quem não quer inventa desculpas.
Eu já tentei participar de uma prova de down hill em 95 e vi que aquilo não era o meu chão. Amo pedalar, quem me conhece sabe que eu pedalo facilmente 30 km em 1h e 30 min por dia todos os dias se o tempo me deixar. Mas competir nesse esporte não era pra mim porque eu gosto é de passeio e conversas com os amigos e o que eu descobri nas competições de bicicleta foi que amigos mesmo se tem poucos. A grande maioria que está lá fica falando sobre sua suspensão de 2 mil reais em conjunto com a mesa de carbono que está com 9 meses de uso (e nenhum arranhão) e já vão ter que trocar porque saiu uma nova. Aí vendem tudo pela metade do preço e depois esnobam aqueles que não tem nem um terço em dinheiro investido na bike. Só que eu percebi que esses "milhonários" sempre andavam junto ou ficavam para trás nas trilhas que eu fazia sendo que minha bike tem 15 anos de uso e todas as peças "porcarias", para não dizer que são lixo segundo a visão deles.
ResponderExcluirEntão para mim ficou claro: não é o equipamento, é o que tu faz dele. Isso é a maior diferença em qualquer esporte, desde a F1 com um Schumacher no volante até as trilhas de bike do interior do RS.
Por isso participo daqueles esportes onde eu posso fazer amigos. Onde a gente dá risada, faz festas junto e ninguem fica falando mal dos meus pedais de 15 pilas ou da minha pressurização feita em casa.
Olha, acho que o Felipe (o grande campeão de 2008, ehehe) chegou num ponto fundamental da história. Provavelmente muita gente deixa de participar de competições por não ter um grupo, por não encontrar boas amizades, por não ter as atividades extra-competições como os churrascos da galera do 147 folia. Provavelmente o que a Associação Desafio faz é transformar pessoas que nunca pensaram em ser realmente competitvas em grandes vencedores do esporte. A AD estimula cada um que participa com a coletividade.
ResponderExcluirGrande beijo! Muito bacana o post irmão!