terça-feira, 7 de abril de 2009

Por que uma dragway tem duas pistas?


Que a arrancada é um esporte em ascensão ninguém duvida. Todo ano são inauguradas novas pistas, surgem novos carros e recordes são quebrados. É de fato também um esporte em evolução. Porém os novos tempos trazem também novos desafios e talvez uma reavaliação dos papéis de cada um.

Arrancada é para quem? Para quem são organizadas as provas? Tendo quem em mente são criados os regulamentos, as categorias, a própria estrutura da prova? Durante muito tempo essa pergunta foi fácil de responder: Para os pilotos, é lógico. E não só para eles, mas também por eles. Os organizadores de provas geralmente eram pilotos ou apaixonados que faziam tudo acontecer, às vezes mais em função de seu amor pelo esporte do que pelo próprio retorno financeiro.

Mas não estamos mais no tempo dos “km de arrancada”, onde pistas eram ajeitadas em qualquer estrada ou rua de cidade do interior. O esporte cresceu e as grandes provas são organizadas em autódromos ou dragways com estruturas, que tem um custo bem mais alto para operar. Pistas como o Velopark não podem mais se dar ao luxo de fazer uma prova e contarem apenas com a inscrição dos pilotos como retorno financeiro. Isso mal paga uma fração dos custos da prova.

Na arrancada dos dias de hoje os papeis se inverteram: O público que antes era um convidado até dispensável e ficava se acotovelando para poder arrastar a barriga em cordões de isolamento hoje é a figura central do negócio, principal objetivo dos organizadores. E os pilotos, que antes ocupavam essa posição foram alçados a um papel diferente: Eles são as estrelas do espetáculo. Contudo, para merecer esse novo e muito mais alto status, precisam conquistar o público. É uma nova obrigação que vem com esse papel e querendo ou não, ao participarem de provas com mais de dez mil presentes e pagantes, eles tornam-se figuras públicas.

Mas vivemos uma fase de transição e muitas pessoas nesse ramo estão com a mentalidade cristalizada em um passado que não volta mais. Querem gozar de seu novo status, mas não compreendem seu novo papel e as novas responsabilidades que surgem com ele. Reclamam da falta de patrocinadores para o esporte, mas não compreendem a relação que existe entre o público e o retorno do investimento. Tentam forçar os organizadores a fazerem uma prova voltada para os pilotos, desprezando a importância do público e o retorno do organizador, consequentemente sabotando o esporte de dentro para fora.

Um dos aspectos que mais atrai o público é o aspecto humano do esporte. Valores como coragem, garra, agressividade, determinação, talento, atitude... O esporte comercial não é nada mais e nem nada menos que um grande palco onde os pilotos são os atores, vivendo na carne seus papéis na história da vida real. Cada piloto através de sua trajetória e suas atitudes agrega para si um conjunto de valores com os quais uns ou outros espectadores se identificam, sendo isso muito mais importante para eles do que os pormenores técnicos do carro ou da categoria. Ao final do dia, a vitória ou derrota é pessoal e não do carro. Tudo é pessoal.

E se um piloto tem ou deseja ter um grande nome escrito na lateral de seu carro, pagando para ele competir, ele precisa ter a consciência de que deve isso a esses mesmos espectadores que criam o interesse no patrocinador em investir dinheiro nele. Por isso a relação do piloto com o público através da imprensa, grande ou pequena, vale ouro e merece toda a atenção. É por isso também que a lenda da NASCAR Richard Petty ficava após as corridas em uma pequena mesa, dando autógrafos até o último fã. Cada vez mais nesse esporte o fã é o pilar central que mantém a estrutura de pé.

Muitos pilotos atuais têm um grande medo da disputa direta, sentem verdadeiro pânico de que os bastidores apareçam ao público e fazem qualquer coisa por debaixo dos panos para que fique uma imagem, mesmo que completamente falsa, de que todos se dão bem e que nunca houve e nem haverá uma rivalidade. Isso me obriga a buscar em outro esporte uma analogia para demonstrar o quanto essa situação é descabida: Imagine um lutador de boxe, procurando a mídia e dizendo aos repórteres que seu adversário é na verdade um grande amigo e que ele luta boxe por amizade, nutrindo carinho e amor fraternos por todos os seus oponentes...

A arrancada é um duelo, uma medição de forças, de marcas, de competências e de filosofias. Foi assim que ela nasceu nas ruas e desertos de sal dos Estados Unidos, entre desafios, bravatas, afrontas e provocações. Motivada pelos mesmos sentimentos que dão origem às disputas humanas em qualquer plano. Não se arranca por amizade, não se deseja deixar o adversário para trás em frente a trinta mil pessoas por consideração a ele, do mesmo modo que um lutador de cem quilos não dá um soco na cabeça do oponente com toda a sua força por especial afeto fraterno. Essas são as emoções humanas e seu valor não está em serem politicamente corretas. Está em serem verdadeiras.

Talvez seja tempo de aceitar as coisas como elas são, assim respeitando mais o discernimento do público. De aceitar as rivalidades como naturais de todos os esportes e assim compreender que nas corridas, no boxe, no futebol ou mesmo na vida, rivalidades não são brigas. Entre outras coisas, as disputas esportivas são uma forma que o ser humano encontrou para extravasar seus instintos mais competitivos sem ter de recorrer às vias de fato. Após milhares de anos de evolução, o homem é um bicho que tem o domínio da sua fúria, mas isso não significa que os instintos mais básicos não habitam uma caverna, bem lá no fundo de cada um de nós. Saber o momento de liberar e controlar esses instintos é o que nos diferencia tanto dos robôs sem sentimentos, como das feras selvagens.

É justamente por isso que uma dragway tem duas pistas e não uma só.

13 comentários:

  1. So que infelizmente ainda temos muito pouco de cuidado das organizações das provas com a imprensa. Com o crecimento do público, que poderia ser maior ainda, caso naõ leva-se para o autodromo algum louco que faz bobagens e é considerado imprensa. tem que se começar a levar mias a serio os veiculos que transmitem e fazem a cobertura dos evenotos. Junatndo o publico ,organização e imprensa concerteza teremos um grande salto. Mas é muito bom a preocupação e um belo texto. Abraço.

    ResponderExcluir
  2. Pegou na veia.

    Nada mais emocionante que emoção verdadeira.

    A arrancada é um esporte que nasceu das ruas e do confronto direto, selvagem até.

    Mas tem muita gente aqui que quer transforma-la em um esporte sem enfrentamento, uma espécie de convescote de amigos, onde ninguem perde, ninguém ganha e depois vão todos de mão dada para casa.

    O publigo que vai a uma pista quer ver seu piloto preferido vencer- de preferência humilhar seu adversario.

    E, se voce acha que isso é muito agressivo para o seu gosto, pode tentar algo mais civilizado, desfiles de moda, por exemplo.

    ResponderExcluir
  3. A arrancada tem duas pistas por que é uma competição direta entre dois oponentes. E o objetivo é derrotar o adversario, da forma mais contundente possivel.

    Desfilar um a um, como uma passarela, é para modelos como a Gisele B.

    E, querem saber, esse negócio de "Recooordddddd", como grita aquele gordo paulista, é uma espécie de vicio que esta estragando a arrancada.

    Vitórias? Bobagem, faço um "reeeecoooooorrrddd" aqui e vou embora de maõs dadas com meus amiguinhos...

    Whally Parks tá se revirando na cova!

    ResponderExcluir
  4. como diz um conhecido meu '' a 7000 rpm's não tenho amigos''.

    ResponderExcluir
  5. Amigos amigos, negócios a parte.

    Arrancada de um carro só é que nem amistoso da seleção brasileira contra a seleção de Trinidad e Tobago, não tem graça nenhuma.

    A rivalidade extraí o melhor de cada competidor, leva o publico ao autódromo e faz o esporte ser mais empolgante, competitivo e atraente.

    Quem tem medo de rivalidade, tem medo de corrida.

    Corrida não é apresentação, é disputa, pura e simples.

    ResponderExcluir
  6. Depois de mudanças de regras e unificação de regulamentos, nada mudou!!Ao invés de evoluir, estão andando pra trás!Que graça tem arrancar sozinho?!Eu não vejo nenhuma e com certeza o público também não!!O público quer ver disputas como as dos Camaros de Adriano Kayayan e Roderjan Busato!Disputas assim que levantam o público para ver quem vai passar na frente lá no final da reta!É ótimo bater um record, mas em cima de um adversário, é melhor ainda!!

    ResponderExcluir
  7. Parabéns Vicente, grande texto !!

    Rodrigo Cohen

    ResponderExcluir
  8. Pô Vincent..
    tu tambem escreve bem como o papai marquinhos.
    por isso é que tu não termina meus amortexxxx.
    hehehehe.
    Dirk Werk Puma Preta

    ResponderExcluir
  9. Rat Fink ruleeeezzz

    Arrancada é disputa...pra que alguem ganhe, outro tem que perder!!! só um PINEL comemora um trófeu que não foi disputado...muito mais fácil comprar um...melhor, já compra três e sai dizendo que é tri-campeão!!!

    ResponderExcluir
  10. Dirkinho, não acaba comigo na frente dos meus 15 000 leitores...

    Senão vou contar pra todo mundo que tu quer correr sentado na coisa preta!!!!

    ehehehehe

    Fica tranquilo que teus produtos estão em andamento!

    ResponderExcluir
  11. como disse marquinhos pegou na veia, grande texto, parabens, a arrancada precisa de competitividade e rivalidades, não de carros desfilando por um novo recorde...
    recorde é legal mas a rivalidade leva o esporte para frente...

    ResponderExcluir
  12. Valeu galera, pelos comentários. Comentário é bom e faz o 1320 crescer.

    Agradeço especialmente ao Rodrigo, que vi correr com seu fusca no primeiro racha tarumã! Muito tempo depois fiquei muito feliz em vê-lo andando novamente com um carro forte no Velopark.

    Agora queremos vê-lo no Open Day, disputando o campeonato desafio e o TOP 16 AD!

    Abraços e obrigado a todos, mais uma vez.

    ResponderExcluir
  13. Como já disse um amigo: "É PÉ PRO LADO!!!"

    Pessoal, para mim simplesmente não existe uma puxada em que eu arranquei sozinho. É como se não tivesse graça, empenho, disputa. Eu não quero disputar comigo mesmo!

    Além do mais, eu nunca veria meu oponente pelo retrovisor (a modéstia ficou lá no início da pista também, hahaha!!!!).

    Acho importante frisar o quão é idiota aquela figura narradora berrando como se fosse um monstro ofegante quando sai algum recorde.

    É simplesmente patético e inoportuno. Existem outras formas de enaltecer tais eventos (as quebras de recordes) e garanto que uma que não deixe os espectadores surdos e irritados é uma ótima alternativa, seja ela qual for.

    Vicente, belo post! Parabéns!

    ResponderExcluir

Seguidores