domingo, 16 de outubro de 2011

Estratégia no TOP16



É uma idéia corrente em todo o mundo do automobilismo de arrancada, que o vencedor é sempre aquele que possui o melhor carro, ou melhor dizendo, o carro mais potente. Ser o melhor piloto, o piloto mais capaz de preservar o equipamento ou mesmo ter o equipamento mais confiável em geral ainda são idéias relegadas ao segundo plano.

Ainda que em quase todos os tipos de automobilismo a importância desses conceitos esteja no mesmo nível ou até mesmo acima do potencial do carro, na  arrancada de hoje poucos acreditam que essas capacidades tenham papel determinante em vencer uma competição.

Mas aos poucos isso vem mudando. Conforme os pilotos aprendem a utilizar a estratégia em seu favor, os resultados começam a aparecer. Um bom exemplo foi a vitória de Valdenir de Borba na ND8.

Sim, seu Chevette é bastante rápido. Na verdade obteve o segundo melhor tempo de pista nas classificatórias - 7,271, atrás apenas de Anderson "Boca" da Luz, com 7,129. Porém, com uma pilotagem um pouco melhor, conseguiu 0,194 de reação, contra fracos 0,528 do Boca. Assim, com o tempo combinado de 7,465 Valdenir classificou-se em primeiro lugar no TOP16, ganhando o direito de acelerar na primeira eliminatória com o classificado em 16o, ou seja, ganhou a vantagem de acelerar contra o mais fraco na primeira rodada.

Mas a estratégia de Valdenir já havia começado antes disso. A estrutura da competição determina que todos os pilotos tem direito a dar 3 passadas classificatórias. A melhor passada classifica o piloto para as eliminatórias. Entretanto, as 3 passadas são um direito e não uma obrigação. Atualmente, os carros mais competitivos no TOP16 são os mais rápidos, mais potentes e em geral, justamente por isso, também os menos confiáveis. Então, quanto mais competitivos os carros, maior a chance de quebras. Valdenir vinha correndo há algum tempo nas ND, sempre com tempos competitivos e aprendeu a importância de preservar o equipamento.

Assim, a estratégia do "Chevette cor-de-bala" começou quando o seu piloto utilizou os treinos para avaliar as condições do carro na pista. Nos treinos Valdenir foi capaz de dar uma puxada de 7,277, então a equipe sabia que o carro estava forte. Assim, aproveitaram a primeira classificatória para marcar um tempo que garantiria uma boa classificação, permitindo dessa forma que o carro ficasse estacionando durante o restante das classificatórias, preservando o equipamento e minimizando a chance de quebra.

No decorrer da corrida, a equipe da Mecânica Estrela Diesel procurou a organização de prova, para certificar-se de que não seria necessário dar mais de uma passada para garantir presença no TOP16. Ao mesmo tempo ficaram ligados nos tempos de outros competidores, mas apesar de bons adversários estarem presentes na pista o Chevette se manteve no topo da lista até o final das classificatórias.

Começa o TOP16 e em sua primeira puxada, Valdenir pega o Corsa aspirado de Willian Spolavori. Logo fica aparente mais uma vantagem de estar ao volante de uma máquina notoriamente rápida: Willian sabe que seu Corsa não pode com o Chevette num confronto direto, então tenta lançar mão de uma reação baixa para tentar conseguir alguma vantagem. Arriscando muito, Willian acaba queimando a largada, entregando a vitória da bandeja para Valdenir, que não precisa nem acelerar para garantir sua passagem para as quartas de final. Enquanto outros precisam acelerar forte para superar os adversários, o Valdenir avança mais um round sem forçar o Chevette.

Valdenir está tão dentro dessa mentalidade que instintivamente começa a fazer o retorno, antes da metade da pista. Mas eis que no meio da incomum manobra, o "Véio" resolve desistir do retorno e completar a puxada, só por via das dúvidas. Afinal, ele não tinha certeza do que poderia acontecer se ele não concluísse sua passada. Fecha então a volta com o tempo de pista de 31 segundos.

Mas ao queimar a largada Willian já havia dado a vitória a Valdenir. Segundo o regulamento o tempo mais baixo entre os vencedores das oitavas é que determina a escolha de pista nas quartas. Então entre mortos e feridos, Valdenir perdeu apenas a vantagem da escolha da pista contra seu próximo adversário, o Chevette de Guillermo Artigas.

Nas quartas de final, o Véio demonstra que não está mesmo muito preocupado com a escolha de pista e sim com garantir uma vitória segura a cada rodada. Quando os dois carros arrancam, as reações cronometradas são de 0,400 para Artigas e mais de um segundo para Valdenir. O que ocorre parece um erro tosco, mas na verdade é mais um momento de estratégia do piloto, que conhecendo os tempos de seu adversário e a capacidade de seu carro, decide largar com base não no pinheirinho, mas sim no seu oponente. Assim teria a certeza de não perder por queima da largada e poderia controlar a vantagem que seu carro era capaz de tirar na pista. O resultado foi uma vitória de Valdenir por 0,269 segundos de vantagem.

Conforme a competição afunila, os adversários vão se tornando mais difíceis. Na semifinal Valdenir teria de enfrentar Jalmo Peyrot, da equipe Litoral Turbos. Jalmo pilota o carro rápido de tração dianteira mais constante da AD, capaz de andar solidamente na casa dos 7 altos. Valdenir agora arranca de verdade e faz reação de piloto, abaixo de 0,100. Mas mesmo cravando bons 0,051, Valdenir não consegue superar a reação de Jalmo, que trava o cronometro em 0,049. De qualquer forma, vencer na reação não é necessário se o Chevette superar a Saveiro em tempo de pista. E de fato é o que ocorre. O Chevette anda na casa dos 7,3, colocando quase um segundo em seu adversário, que não mantém sua média de tempo habitual.

Somente Bráulio Rocha e seu Fusca AP turbo se interpõe entre Valdenir e a vitória no 14o TOP16 da AD. Mas "somente", não é uma palavra adequada para descrever este adversário. Se o Fusca não atingia o mesmo nível de performance do Chevette, Bráulio tentaria compensar isso "no braço". Ele vem se firmando como o "showman" das Noites do Desafio, pilotando seu Fusca de forma arrojada e sempre levantando a arquibancada com seus burnouts de lado e contagiando a todos com sua tocada no limite do insano.

Agora era a hora da verdade: GM contra VW. Fusca contra Chevette. Motor original contra motor AP. Pilotagem fria e estratégica contra tocada insana. Valdenir de Borba Contra Bráulio Rocha. Gostando ou não de Fuscas e Chevettes, se nenhuma dessas rivalidades faz você levantar da arquibancada, então me desculpe, mas talvez seja um bom momento para considerar outra atividade. Quem sabe a arrancada não seja para você...

Lado a lado. ambos arrancam quase juntos, com reações na casa de 0,200. Ninguém quer queimar e tampouco deixar o outro levar grande vantagem. Ambos controlam seus carros de lado na reta de Tarumã, ambos pilotam sem erros e fatalmente a superioridade do Chevette fala mais alto, garantindo a Valdenir a vitória.

Bráulio volta feliz pela pista, pois sabe que fez seu melhor. Desce de seu Fusca e cumprimenta Valdenir pela vitória merecida. A pequena torcida de chevetteiros que aguentou a maratona até o final vai a loucura, pois tem um novo ídolo. Valdenir leva R$1000,00 em dinheiro e mais um volante Shutt FuelTech, no valor de R$500,00, mas a emoção no semblante do piloto mostra que o sabor de uma vitória batalhada na verdade não tem preço.

E assim Valdenir de Borba entra para a história da AD, como o cara que usou a estratégia para fazer tudo certo, gravando seu nome como o grande vencedor do 14o TOP16.

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