Alguns anos atrás, uma das principais reclamações dos fãs de arrancada era que muitos eventos eram realizados em pistas de 201 metros e que assim não se poderia jamais sequer sonhar com uma arrancada profissionalizada no Brasil. Estava na cara, bastava comparar isso com a "verdadeira arrancada" realizada nos Estados Unidos, onde todas as pistas tinham 402 metros, onde reinavam absolutos os Top Fuel e os Funny Cars.
Pois bem, há alguns anos as coisas vem mudando. Enquanto alguns se assustaram com a chamada crise na arrancada americana tradicional, com o declínio das principaios ligas americanas, a NHRA, AHRA e IHRA, outros observavam atentamente o nascimento de uma nova liga, com uma nova filosofia de trabalho.
Essa liga chamada ADRL apareceu trabalhando da forma que os opiniáticos de plantão julgaram estar fadada ao fracasso antes mesmo do próprio nascimento: Corridas apenas em 201 metros, apenas 4 categorias e nenhuma para dragsters, fossem eles Top Fuel ou Funny Cars. A perplexidade aumentou quando foram divulgadas a entrada grátis para os espectadores e a inscrição igualmente franqueada para as equipes. Mas talvez o que mais tenha chamado a atenção dos amantes do livro de regras, tenha sido o fato de que na ADRL quase não existem restrições técnicas.
Conforme a tradição da evolução do esporte até então, essa proposta absurda era apenas o delírio da mente de um homem louco que não entendia nada de arrancada ou de ganhar dinheiro. Mas o tempo passou e rapidamente, como sempre os críticos verborrágicos tiveram o desgosto de ver o empreendimento crescer ao ponto de bater todos os recordes de atendência de público das dragways por onde passavam, atraindo 70, 80, 100 000 espectadores para as provas. E não bastasse isso, ainda se erguer para disputar de igual para igual com a toda poderosa NHRA o dinheiro dos patrocinadores e as próprias equipes de competição.
Kenny Nowling: Cabeça da ADRL
Não sabemos qual será o futuro e como reagirá a NHRA frente a essa nova competidora, mas o fato é que hoje a ADRL mostra que a crise não é da arrancada e sim das entidades reguladoras que se deixaram levar por conceitos prontos e perderam a perspectiva daquilo que o público realmente quer ver, bem como quanto ele se dispõe a pagar por isso.
E aqui na terrinha, ainda tem gente que por puro preconceito e falta de informação, se espelha em um modelo que está tomando uma surra da modernidade. Com isso não quero dizer que devemos copiar a ADRL no Brasil. De fato, sou um grande crítico da cópia sem critérios e fica mais do que óbvio, feita uma análise muito rasa sobre o que ocorre dentro da pista em uma prova da ADRL, que oa arrancada de hoje no Brasil não tem cacife pra sequer tentar copiar um esquema como esse. Basta para tanto, dizer que os carros andam na casa dos 3 segundos nos 201 metros, passando em velocidades acima dos 300 km/h... Nos 201 metros!
Doorslammers da ADRL: Casa dos 3s nos 201, acima de 300km/h
Mas então que lição fica disso tudo?
Em primeiro lugar, temos de ter claramente em nossa cabeça que arrancada só funciona enquanto negócio, enquanto showbiz. A paixão pelo automobilismo é muito nobre e louvável, mas sozinha não enche barriga. Para que pessoas competentes possam organizar os eventos, as provas precisam dar lucro pois pessoas, sobretudo as competentes, não trabalham de graça.
Em segundo lugar temos de compreender uma coisa que muitas vezes passa despercebida, seja por simples falta de atenção ou por falta de informação mesmo: Arrancada não é necessariamente vanguarda tecnológica. Bem pelo contrário, os carros mais rápidos e potentes do mundo utilizam tecnologias que estão propositalmente defasadas há décadas, como motores V8 do tipo pushrod, com arquitetura baseada nos "blocos-elefante" Chrysler Hemi 426, em alusão ao grande volume de deslocamento, lançados em 1964, sobrealimentados por superchargers 14-71 cujo design é baseado nos antigos sobrealimentadores utilizados originalmente em motores Diesel de dois tempos da marca GM.
Apesar da tecnologia de materiais e do gasto em engenharia, o simples uso desse equipamento demonstra que a questão não é mais, nem mesmo nas categorias de ponta, atingir o limite da capacidade humana em termos de performance. Ao passo que quase todos nesse mundo sabem que o detentor do recorde da categoria mais rápida da NHRA é Tony Schumacher com o impressionante tempo de 4,428 segundos no quarto de milha, pouca gente sabe que em 1977 uma mulher chamada Kitty O"Neill arrancou com um dragster movido a peróxido e atingiu a marca de 3.22 segundos no quarto de milha, cruzando a linha a absurdos 637 km/h.
Tendo claras essas duas situações, fica simples de compreender que o importante é organizar uma corrida na faixa de tempos onde existe a melhor relação entre número de participantes e a performance exigida para empolgar o público presente. Isso pode ser feito através de regulamentos complicados, mas pode ser atingido também através de regulamentos simples.
É tudo tão simples como 2+2, porém preconceitos de longa data e práticas comerciais míopes tem impedido a evoulção do nosso esporte nos últimos anos.
E será que no Brasil as coisas também podem mudar? Após anos de mesmice e miopia, muita coisa está acontecendo nos bastidores e dois gigantes do setor estão dando indícios de que novos ventos começam a soprar nas nossas praias. Mas por ora, só nos resta aguardar os movimentos desses major players.
Então leitor, fique ligado no blog, pois talvez tenhamos notícias muito interessantes em breve.
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