terça-feira, 29 de novembro de 2011

ND9: O dia dos gladiadores

Reta de Tarumã após a batalha da ND9
"Em muitos sentidos, o trabalho do crítico é fácil. Nos arriscamos muito pouco, mas ainda assim nos colocamos numa posição acima daqueles que oferecem [apresentam] seus trabalhos e seu próprio ser para nosso julgamento. Prosperamos e crescemos com base em críticas negativas, que são divertidas de escrever e de ler. Mas a realidade amarga que nós, críticos, precisamos enfrentar é que, numa perspectiva mais ampla, qualquer porcaria medíocre possui mais significado do que uma crítica que assim a designa. Há, contudo, momentos em que um crítico precisa arriscar algo, e este momento consiste na descoberta e na defesa daquilo que é inovador."

Esse texto, como vários devem ter notado, saiu do filme animado Ratatouille, da Pixar. Aquele no qual um rato, em um mundo de humanos, torna-se o maior chef de cozinha da França. A história trata na verdade, de um dilema humano dos mais universais: A novidade que mesmo sufocada pelos interesses e preconceitos, rompe todas as barreiras e mostra ao mundo o seu valor.

Como diz a incrívelmente pungente citação da Pixar, o novo é muitas vezes desprezado, quase sempre visto com apreensão e raramente avaliado com justiça. Para que o novo possa florescer em um mundo cético, é preciso que ele seja mais do que bom. Precisa ser SUPERIOR. Algumas vezes isso leva um tempo.

Para todos aqueles que têm feito parte da AD desde seu início e têm acompanhado seu desenvolvimento, tenho certeza que essas palavras calam fundo. Pois sabem o quanto dói ouvir críticas levianas e irrefletidas. Mas as que mais machucam mesmo são aquelas bem arquitetadas, para acertarem no ponto mais fraco do joelho de alguém que já se esforça ao limite, carregando o enorme peso das expectativas dos seus, das desconfianças dos neutros e das maledicências dos outros

Quando você traz o novo, é bom que ele seja bom, muito bom.

E assim foi a ND9. Não foi só boa, foi transcedental. Um divisor de águas.

Para aqueles que enchiam a boca para dizer que Tarumã não tinha mais arrancada, foi uma grande decepção. A ND9 trouxe a competição mais feroz do ano em solo gaúcho, disputada por pilotos aguerridos que se entregaram de corpo e alma para o espírito competitivo e protagonizaram duelos inesquecíveis, que viverão para sempre na memória daqueles que estavam na pista. A expressão mata-mata foi levada ao seu limite pelos pilotos que arrancaram dando tudo de seus carros e não tiveram medo de se arriscar à derrota.

Uma verdadeira guerra: Empinadas, ladeadas, burnouts selvagens, recordes pessoais caindo puxada a puxada. Aqueles foram mais que pilotos, foram gladiadores do asfalto em uma tarde quente, que lutaram até o fim pelo direito de serem considerados os mais aguerridos, os mais imbuídos, os mais ousados. Os melhores.

E nesse afã desenfreado de vencer à todo custo, Tarumã viu seus heróis locais ignorarem a subida, ignorarem o asfalto em suas más condições, ignorarem a inferioridade da pista e baixarem seus tempos aos níveis das melhores pistas do Brasil. Um a um os pilotos foram melhorando suas marcas: A cada puxada mais rápida do adversário, cada piloto acreditava mais em si mesmo e baixava ainda mais seu próprio tempo.

E não, não há cronometragem duvidosa. Os tempos foram registrados pela Produpark, a melhor cronometragem do Brasil. Isso traz credibilidade, isso mostra que em Tarumã também dá.

Novos pilotos vieram, trazendo máquinas renomadas, competência reconhecida. E se chocaram num duelo de gigantes com os pilotos locais, mostrando que no TOP16 ninguém é menor do que ninguém. Depois de muitos anos, é finalmente lá que a competição ganha sua notoriedade e reconhecimento. Talvez o local mais improvável, pois assim como a AD, a arrancada em Tarumã vinha sofrendo de um grande descrédito após a abertura do Velopark, melhor dragway do Brasil.

A ND9 trouxe de volta o prestígio para a arrancada em Tarumã. Lá estava o caldeirão que mais fervilha na arrancada de hoje. O que mais influencia novos pilotos, o que mais esperança traz àqueles que sonham em correr e um dia tornarem-se os grandes, incontestes e reconhecidos campeões.

Ver a expressão única dos pilotos assistindo o grande campeão do dia ser levantado por sua equipe, nos leva a imaginar: No que será que estarão pensando? Certamente na próxima corrida, nas próximas mudanças que farão no carro, na próxima chance que terão de voltar a Tarumã, o coliseu da velocidade e lutar novamente.

Talvez nem importe tanto assim a vitória. Talvez o que valha mais são aqueles momentos em que a luta está a pleno, momentos em que nada mais importa, somente eles, o carro e o pinheirinho. Momentos em que eles voltam triunfantes pela pista após uma vitória, ouvindo a algazarra da equipe e de seus torcedores. Momentos em que soltam a voz e acreditam que hoje será o dia. Momentos que antecedem a próxima disputa. Momentos que só um verdadeiro lutador pode entender.

Momentos que só existem em Tarumã.

Talvez o hoje não consiga expressar a verdadeira dimensão desses momentos. Mas com certeza os frutos dessa safra serão colhidos num futuro não tão distante. E novas safras tem tudo para serem ainda mais doces. Mas para continuar colhendo, é preciso continuar plantando.

Longa vida às ND em Tarumã!

3 comentários:

  1. PQP, NÃO DÁ PRÁ GRITAR OUTRA COISA A NÃO SER UM ENORME PQP........
    QUE TEXTO, QUE VISÃO, QUE COISA LEGAL.
    E VAMOS RUMO À 2012, 13, 14, ..................

    PARABÉNS A TODA NAÇÃO DESAFIO.

    MÁRCIO PIMNTEL

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  2. Foi um dia digno de filme, daqueles como os filmes que retratam a história do beisebol americano nos anos 50. A muitas ND's que não saíamos tão leves de uma corrida, cada um fez o seu melhor tudo aconteceu de uma maneira muito afinada. A sensação que fica é que cada um dos pilotos tinha na cabeça: é hoje ou nunca mais. E assim foi!

    O texto está excelente!

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