quinta-feira, 25 de agosto de 2011

70 anos podem mudar muitas coisas...


Há uns setenta anos atrás o mundo estava passando os piores dias da segunda guerra mundial. As forças do eixo estavam em ascenção e o Japão era uma delas. Esse formidável império era tido por suas lideranças e seu povo como grande na guerra e por seu longo retrospecto de vitórias acreditavam ser invencíveis.

Bem, como todos sabem, isso acabou de forma lamentável com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Mas as derradeiras bombas foram só o fim de um conflito sangrento, no qual os japoneses preferiam a morte do que a rendição aos americanos. No final da guerra do pacífico os pilotos de caça japoneses atiravam seus aviões não somente contra alvos valiosos como couraçados e porta aviões, mas até mesmo contra outros aviões, outros caças. Os kamikase preferiam empatar na morte do que serem derrotados em vida.

O que foi um grande contraste, pois os aviadores costumavam ser tidos como os cavalheiros dos conflitos, que na primeira guerra mundial chegavam a tomar chá junto com seus adversários após as contendas aéreas, quando o piloto vencido tinha a sorte de não morrer metralhado.

É certo que havia no japão o Bushido, mas não eram só os guerreiros que preferiam morrer a se entregar aos americanos. As pessoas comuns, talvez numa das cenas mais tristes da história, passavam dias escondidas em cavernas, com medo dos soldados aliados que eram tidos como demônios que matariam os homens, estuprariam as mulheres e agiriam pior do que a horda de Gengis Khan. E em consequencia disso, muitos civis japoneses optaram pelo suicídio coletivo quando souberam da derrota de sua pátria.

Além disso, os japoneses sempre foram muito fechados. Dos anos 1650 aos anos 1850 foi instaurada uma política isolacionista, que determinava que era proibida a troca cultural com os países do exterior, sendo inclusive proibido o trânsito de pessoas estrangeiras no país, bem como a saída dos japoneses ao exterior. E a violação dessa lei era punida com a morte.

Talvez os cem anos entre o final da política isolacionista do Japão e o início da segunda guerra mundial não tenham trazido grandes mudanças, mas os setenta anos que correram entre o final da guerra e os dias atuais foram bem diferentes. Avaliando através de um ponto de vista histórico, é interessante ver nos dias de hoje os japoneses se dedicando à cultura legitimamente americana dos hot rods e modificando carros americanos que foram fabricados em uma época em que eles mesmos preferiam o suicídio a interagir com qualquer coisa que viesse dos Estados Unidos.




Mas confesso que é bastante estranho quando penso que o próprio fenômeno hot rod é um filho da cultura do pós guerra e que talvez por isso mesmo uma das maiores inspirações desses carros são os aviões militares desse período.

Um exemplo clássico é a famosa boca de tubarão usada em um sem número de hot rods:


Ocorre que esse grafismo foi originalmente criado para os Curtiss P-40 pilotados por norte-americanos que dizimaram os Zero japoneses nos céus da China. Através de todo o mundo existem milhares de carros, motos, barcos, aviões, helicópteros e o que mais se possa imaginar ostentando os raivosos dentes de tubarão. Mas não é desconcertante imaginar um hot rod japonês com esse grafismo?

Curtiss P-40 e os  "Flying Tigers": Esquadrão voluntário americano para combater a força aérea Japonesa na China

É estranho e talvez complicado tentar rastrear as raízes de uma cultura da época de seu nascimento até os dias de hoje. Esse video mostra que os hot rods podem significar uma grande vitória da paz, do intercâmbio de culturas e da evolução humana.

Mas talvez, mesmo após todos esses anos, não faça mal saber o peso cultural que tem o grafismo que você escolhe para o seu carro. Afinal, depois de duas bombas atômicas, um pouco de discernimento não faz mal a ninguém. 

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