sexta-feira, 22 de maio de 2009

É bomba!


Certos assuntos nascem polêmicos. Não sei se é feliz ou infelizmente, só sei que é assim. E quando fui convidado para uma reunião de pilotos no Velopark com o intuito de "melhorar a arrancada", senti que seria um desses momentos.

O Velopark desde sua criação, planeja construir um autódromo de nível internacional para receber provas importantes como F-Truck, Stock Car, endurance e outras. A construção dessa nova pista aliada ao fracasso das arrancadas de nível local, começou a deixar alguns pilotos dessa modalidade com receio de que o Velopark fosse virar as costas para eles.

Tenho que admitir que não é um medo completamente infundado, pois o Velopark é um negócio e não pode manter em seu calendário, que ficará cada vez mais concorrido, provas de arrancada falidas que dão prejuízo.

Então, incentivados pelo próprio Velopark, alguns pilotos locais empreenderam uma tentativa de formar uma associação de pilotos, exatamente igual à Associação Desafio, porém segundo eles, em nível profissional. Os objetivos seriam os mesmos: Lutar pelo crescimento da arrancada. E era disso que se tratava a reunião.

Todos expressaram opiniões, mas a maioria delas eram auto-centradas, com ênfase total nas necessidades dos pilotos. O egoísmo desconcertante da maioria ativa emudeceu aqueles que pensavam diferente. Só se conseguiu falar nas injustiças cometidas pela organização do Velopark que dava incentivos para uns e não para outros, nas injustiças cometidas pelo vistoriador que leva o livro demais à risca, nas injustiças cometidas pela CBA e FGA e sobre o sistema de mata-mata, que era o mais injusto dos sistemas, pois nele o carro mais rápido não ganha a corrida...

Os pilotos não entraram naquela reunião como agentes da mudança. Eles entraram como vítimas. Vítimas do Velopark, vítimas do Carlos "Português" de Deus, vítimas do vistoriador e até vítimas do locutor, que não narra os recordes deles da mesma forma que narra os recordes dos pilotos de outros estados...

Não houve em nenhum momento um esboço de auto-crítica, de reflexão sobre os problemas da arrancada como a falta de público, e o número pequeno de pilotos por categoria. Só se ouviu reclamações que variavam entre a inexistência de uma categoria para carros com "pistão e biela originais", chegando ao absurdo de reclamarem sobre excesso de rigor nas vistorias de segurança, que existem para garantir a segurança do próprio piloto!

Mas o ponto quente da reunião foi quando os pilotos reunidos juntaram suas vozes para reclamar do sistema de mata-mata, para o diretor do Velopark, Jhonny Bonilla.

Pensando nisso agora tento me colocar no lugar dele, que viajou para conhecer as pistas de primeiro mundo, que se preocupou com uma estrutura física de primeira linha para o parque, com área verde, estacionamento, banheiros e vestiários limpíssimos, arquibancadas para todos, boxes perfeitos, sala de imprensa, internet wireless nas dependências de todo o complexo, sistema de som, placares gigantes, cronometragem de ponta e uma pista que é um verdadeiro tapete vermelho dando as boas vindas aos amantes do esporte.

Tudo isso no quintal de casa não é o suficiente? É preciso também morcegar a ajuda de custo dos pilotos que vem de outros estados? É preciso reclamar até quando o Velopark tenta fazer cumprir os regulamentos que visam a segurança da vida e integridade física do próprio piloto? Que visão tem Jhonny Bonilla sobre essas pessoas? Que visão tem Felipe Johannpeter sobre essas pessoas? Qual o tamanho da decepção do Velopark ao tomar contato com esse tipo de mentalidade?

Vamos colocar a mão na consciência! O Velopark é a pista de arrancada dos sonhos de qualquer estado, apoia os pilotos, oferece espaço para a reunião e lhes serve até cafezinho! E esses mesmos pilotos ao invés de utilizar esse espaço para fazerem uma avaliação crítica dos próprios erros, ficam reinando com besteiras e querendo mudar aquilo que já está muito acima do nível que eles mesmos alcançaram como pilotos, equipes e até mesmo como esporte!

Jhonny com uma paciência digna de de Jó, ficou ouvindo as reivindicações e explicando aos pilotos que segurança é fundamental, que não se pode criar uma associação de pilotos com o objetivo de confrontar a federação e que os pilotos de outros estados merecem toda a atenção do Velopark, afinal são responsáveis por cerca de 80% das inscrições, pois os gaúchos não vem...

Explicou também que o mata-mata é a única forma de praticar o esporte e que as vitórias por tempo mais baixo só existem no Brasil, sendo uma deturpação do real formato do esporte. Jhonny disse que o Velopark vai correr da forma certa e que não vai ceder ao pedido dos pilotos, pois esse pedido vai contra eles próprios.

Assim mesmo as reclamações não cessaram, até o embaraçoso ponto em que os próprios pilotos e preparadores disseram que seus carros não são capazes de competir em uma prova com eliminatórias e Jhonny surpreso com aquela declaração perguntou:

"Então vocês estão me dizendo que fazem carro-bomba?"

E o mais impressionante foi a ingênua resposta dos pilotos e preparadores:

"Sim, fazemos carros-bomba, é tudo no limite."

Finalmente aquela declaração me deu a dimensão real do abismo que existe entre a mentalidade vigente na arrancada e o sucesso do esporte: Imenso. O abismo é simplesmente imenso.

Me pergunto: Será que algum dia a mentalidade dessas pessoas vai evoluir até o ponto necessário para que a arrancada se torne um esporte legítimo e de fato profissional?

Os pilotos de hoje tem para si a noção de que o Velopark deve alguma coisa a eles, como adolescentes mimados que acham que o pai tem a obrigação de pagar-lhes todas as contas. Que tem a obrigação de correr atrás para verificar se o piloto tem cinto, tem banco, tem segurança, da mesma forma que uma mãe fala pro filho: "Meu tesouro, não se esqueça de levar um agasalho!"

Choram quando batem o rééééécorde, mas são eliminados, justamente porque o carro-bomba anda, mas só até "explodir". Acham que é direito seu estar na final, porque conseguiram andar bem uma vez no final de semana, convenientemente esquecendo que o carro quebra justamente porque foi exigido acima do que podia dar! E como fica o espectador que foi para a pista pra ver o pega de um carro que está entrevado no box? Não é justo, eles dizem...

Não é justo?

Justo pra quem?

Pra quem é o show?

Não é justo é com o público, isso sim! Ver uma corrida sem pé nem cabeça, onde 70% das puxadas são queimas, quebras ou desistências. Não é justo com o público oferecer um show sem emoção, sem enfrentamento, sem disputa. Quando é que vai cair a ficha de que os eventos agora são para o público e não mais para os pilotos? É curioso, afinal querem ajuda de custo com inscrição isenta, mas não ligam se o espetáculo não é atraente ao público... Supostamente o dinheiro então deve vir de onde?

"Não é justo, porque meu carro anda mais rápido..."

E quem quer saber disso? O público não quer saber do que poderia ou deveria acontecer conforme as idéias de pilotos, preparadores e ratos de oficina! Não quer saber quem tem o equipamento melhor ou mais caro. Quem tem o preparador mais famoso. Ele quer saber quem tem talento, competência e capacidade pra enfrentar todos os outros e no final sair vitorioso! Ou quem sabe ao menos ter a honra de ter dado trabalho duro ao vencedor.

Não é o carro que ganha, é o PILOTO. Ao retirar toda a responsabilidade das costas do píloto, a arrancada de hoje coloca todo o valor em cima do carro e ao mesmo tempo retira todo o apelo popular do esporte.

Chega de choro, chega de réééécorde, chega de carro-bomba. É a hora do mea culpa! É a hora da auto-crítica! Se o público não vem, não é por causa do Velopark, é por causa do show que é fraco, confuso e entediante. Não se sabe quem ganha, não se sabe quem perde e não se sabe sequer quem está correndo! Deus que impeça essa arrancada de chegar à TV, pois se isso ocorrer, o esporte vai ficar estigmatizado para sempre!

Que venha o mata-mata de verdade, que se reduza o número de categorias e que se separe os carros lentos dos carros rápidos. A arrancada é para homens e mulheres de virtude e não para bebês chorões. Para estar entre os ídolos, é preciso merecer. É preciso resultado. E na arrancada, o mais forte é o mais rápido.
Disputa!

Dedicação, talento, raça, superação, honra... FORÇA!

Emoção!

Vitória, derrota... Choro: De raiva, de tristeza, de felicidade...

Respeito ao público. Show, espetáculo!

No final do dia, só restará o melhor. E esse será o ídolo.

Pilotos, preparadores, fãs... Vamos crescer através da autocrítica!

9 comentários:

  1. Tem muita gente importante no Brasil que afirma que arrancada nem é esporte...

    Até já me meti em conflitos intelectuais com algumas delas! Mas realmente, esta arrancada que esta ai não mantem mais nem a minima idéia do que é este esporte.

    Ele nasceu do mais puro e simples confontro entre desafiantes.
    Cresceu com duelos lendarios como o dos engenheiros da DODGE que na longinqua década de 60 ousaram chamar para o "lado a lado" o imbativel piloto de fábrica da chevrolet. E venceram!!!

    Dai nasceu nada menos que a idolatrada divisão MOPAR que tanto já criou para todos que gostam de carros. Quantos fans da MOPAR aqui sabem disso? Mas amam seus motores e seus Dodges...

    Nos EUA, a outrora poderosa NHRA se perdeu num cipoal de regulamentos, com exesso de categorias pra enquadrar todo mundo e faturar mais uns trocados(no caso deles, milhões).

    Resultado: uma reação dos americanos, que conhecem como ninguém o esporte(eles que inventaram...)migrando pra outra liga, a ADRL onde só tem 3 categorias , as tres sem limite de peso ou preparação de motor.Mas com muitas regras de segurança.

    ResultadoII: nos ultimos anos esta liga tem chegado aos maiores publicos da historia da arrancada!

    ResultadoIII : a NHRA esta tendo milhões de prezuizo com a perda de patrocinadores para... a ADRL! Lá se foram os trocados...

    E meus amigos, lá só se arranca lado a lado com carros que tem no minimo 3000 cavalos e tem de puxar pelo menos 4 vezes seguidas para chegar a vitória.

    Vitórias valem milhares de dólares. Recordes, um tapinha nas costas dado pelos mecanicos.

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  2. Um dia teremos a verdadeira arrancada. E esse dia não está longe. Ou é tudo ou não é nada.

    Abraços!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Mais uma coisa: A arrancada, como tantos outros esportes, possui o seu lado político. Essa política, dependendo da ótica, assim como das pessoas, é radicalmente DIFERENTE e INCOMPATÍVEL.

    Portanto, OU AS PESSOAS ESTÃO DE UM LADO OU ESTÃO DE OUTRO, que isso fique bem claro.
    Assim, quem está tentando participar de ambos os lados, tentando agradar a todos, está numa emboscada sem volta, já que após a mencionada reunião ocorrida na última quarta-feira (20/05/2009), tudo ficou bem mais claro para TODOS e seria interessante, no mínimo, que os partidos sejam tomados LOGO. A era dos dissimulados ACABOU. E já vai tarde.

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  5. Esqueceu apenas de uma coisa para ser perfeito: ¨seus preparadores são incompetentes?¨

    Com o open nos domingos aposto que muito antes do que esperam terá mais de 10 mil pessoas nas arquibancadas e com os pilotos da AD cada vez trabalhando mais para deixar seus carros confiaveis e rápidos, certamente daremos o show que os ¨profissionais¨ acham que dão e que tanto o publico quer ver.

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  6. Eu perdi essa reunião porque estava viajando. Que pena.

    A história desses pilotos parece a do MST. Se derem o que querem, vão mudar de idéia e pedir outras coisas, como já vimos acontecer.

    Vamos continuar com nosso trabalho e colher os frutos em breve, muito em breve.

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  7. Otimo texto!

    O básico do automobilismo é saber que tipo de prova você quer participar.

    Um carro de Endurance tem preparação diferente de um carro de StockCar.

    Tudo é uma questão de adaptação;
    Se o carro precisa dar 6 puxadas para vencer a prova, o carro tem que aguentar isso, em qualquer categoria de automobilismo é possível fazer carros muito mais rápidos do que a concorrência, só que eles nunca chegam ao final e PERDEM SEMPRE!

    Se o cara quer bater o recorde e se isso é o que norteia o seu trabalho, ele que trabalhe pra isso, só não venha encher o saco de quem corre arrancada.

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