quarta-feira, 24 de março de 2010

3 vidas por um lembrete

Hoje a postagem não tem foto. E não tem, para evitar que a polêmica vá para o lado indesejado, virando sensacionalismo, alarmismo e caça às bruxas. E também porque não muda nada, já que o roteiro é sempre o mesmo, só mudam os atores principais e infelizmente também os coadjuvantes.

Há alguns dias atrás, conversava com um conhecido através do MSN, sobre preparação de motores, arrancada e assuntos relacionados. O assunto nasceu destinado a esquentar, pois esse cara é dono de um automóvel preparado "de rua", no sentido real da expressão, ou seja: É um carro com preparação pesada para uso normal na rua, inclusive é um veículo "de luxo", um sedan de porte médio com ar condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos e todas as amenidades que estão disponíveis nesse tipo de carro. E preparação pesada aspirada.

Quem me conhece um pouco mais, sabe que não sou grande fã de motores aspirados, pois como disse para este interlocutor, não me interessa o que um carro de rua preparado pode fazer fora da pista, pois não é meu intuito testar as suas capacidades fora do local adequado, que no meu caso, como um grande fã de arrancadas, é a dragstrip

Nossa discordância começou quando ele desqualificou o uso do óxido nitroso como forma legítima de aumentar a potência. Seus argumentos foram na linha da "potência irreal" e que "não se sustenta", pois com o uso contínuo a garrafa acaba e então consequentemente não se pode usar essa potência a qualquer momento que se quiser... Eu respondi que sim, se pode usar a qualquer momento que se desejar DENTRO DA PISTA, pois o trecho de 402 metros é muito curto para acabar a garrafa e no box pode-se reabastecer.

"Ah... Mas daí isso não vale pra rua... E eu tenho meu carro para andar forte na rua, dar final na estrada. Não faço meu carro para correr na arrancada."

Tentou assim levar o assunto para o plano do "gosto é gosto", mas tentei deixar claro, ainda que isso adiante de muito pouco, que não achava ser uma questão de gosto a opção por acelerar em ruas e estradas colocando a vida dos outros em risco. Na minha concepção ninguém tem o direito de ter essa preferência, assim como ninguém pode ter o direito de gostar de dirigir alcoolizado.

Mas para um desfecho amigável da discussão, me limitei a aceitar esse argumento dele, pois no fundo ninguém tem o poder de impedí-lo de fazer essas coisas. Mas lembrei dos vários acidentes em que morreram pessoas inocentes, vitimadas por motoristas que tinham esse mesmo "gosto". 

Hoje o assunto volta à pauta, pois soube de mais um acidente que ocorreu recentemente nessas mesmas condições, com outro conhecido. Este último também possuía um carro preparado e embora fosse uma preparação bem diferente, com turbo, haviam muitas similaridades nos dois casos: Ambos eram carros de rua utilizados no dia-a-dia, com preparação pesada para acelerar nas vias públicas, porém pouco competitivos em pistas de competição.

Quanto ao nosso segundo motorista, o que se acidentou, também em muitas oportunidades convidei-o e tentei convencê-lo de que o local próprio para acelerar eram as pistas de corrida e de que lá sim, poderia realmente testar e provar a capacidade de seu carro. As respostas eram sempre as mesmas desculpas já batidas que todos dão: "Meu carro não é de pista, é muito pesado". "Na arrancada não tem curvas", "eu gosto é de dar final", "cada um com seu gosto" e assim por diante.

Bem, esse gosto pessoal lhe custou muito caro pois acabou pagando por ele com a vida. Isso mesmo, recentemente ele estava "dando final" em seu carro preparado em uma estrada, segundo testemunhas disputando com outro motorista que também se acha "piloto de estrada" e acabou batendo a bem mais de 200 km/h.

Alguns poderiam achar até que foi justo, pois ao colocar a vida dos outros em risco, acabou perdendo a própria... Bem, talvez até tivesse sido algum tipo de justiça poética se ele não tivesse levado mais três pessoas inocentes junto com ele, além de seu próprio caroneiro, que jamais saberemos se estava ou não de acordo com o que ocorria no carro naquele momento.

E é interessante lembrar de que não se tratava de um "guri inconsequente", muito antes pelo contrário, era um homem de meia idade, inclusive com passado de vitórias nas pistas de corrida. Reflexos treinados, muita experiência e um bom conhecimento sobre velocidade e seus riscos, bem como a maneira correta de se preparar um carro para responder bem em altas velocidades e também recursos para efetivamente equipar o carro dessa maneira.

Infelizmente apesar de ter tudo isso, faltou o discernimento para aceitar que as vias públicas não são pistas de corrida. O triste da história é que não é preciso ser piloto e nem ter dinheiro para aceitar e compreender esse fato. E com a perda dessas três vidas de pessoas que nada tinham a ver com o caso, não se aprendeu nada. Não se ganhou nada. Foi arquivado apenas como mais um acidente causado por excesso de velocidade.

A única coisa que realmente ficou, foi mais um lembrete de que não importa quem você é, quais as suas habilidades ou qual carro dirige. Se você enveredar por esse caminho, há uma grande chance de a sua morte também acabar se tornando apenas isso: Mais um lembrete de que a rua não é lugar para correr.

2 comentários:

  1. sei lá cara...que coisa...mas derrepente ele nem tava fazendo racha como foi dito...talvez estava apenas sentando a bota e deu problema...claro q não justifica nada, muito menos as mortes...mas foi um erro que todos vamos pagar...logo vão surgir comentarios que o carro era preparado e tal...meus sentimentos aos envolvidos e espero q sirva com aprendizado do q não se deve fazer...

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  2. Porque as pessoas ficam iguais aqueles macaquinhos que não escutam e não ouvem? "NÃO, NINGUEM NA MINHA FAMILIA PARTICIPARIA DE ALGO ASSIM... ".

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