sexta-feira, 12 de junho de 2009

A César o que é de César...

Estamos vivendo um momento estranho. Fala-se ao mesmo tempo de crise e crescimento na arrancada. Fala-se de muita coisa errada, ao mesmo tempo em que não param de surgir novas pistas. A última agora é no meio da selva amazônica...

Teremos em breve uma estrutura invejável para o esporte. Pela primeira vez a arrancada terá mais praças que o automobilismo de circuito. Em breve teremos um número suficiente de pistas para existir um campeonato brasileiro de arrancada, mas um campeonato de verdade, não como os que existiram até hoje. Um campeonato que tem tudo para se tornar fenomenal.

Teremos, como já disse, as novas pistas de 402 metros, com cronometragem padrão internacional. Teremos provas nos lugares mais distantes, nas quais estará presente o elemento da rivalidade entre os estados, o que é um poderoso atrativo para o público. E teremos os carros... Que carros?

A arrancada hoje vive de uma estrutura de múltiplas categorias, que englobam pilotos das mais diferentes condições financeiras, que limitam o tipo de carro que cada piloto pode trazer para a festa. Desde veículos específicos para o esporte, avaliados em algo perto de um milhão de Reais, até simples e comparativamente baratíssimos, carros "de rua".

Mas o Brasil é um país de dimensões continentais. Viagens com o equipamento e a equipe custam, para aqueles pilotos menos providos, uma verdadeira fortuna. Uma temporada de um campeonato nacional em um país de dimensões como o Brasil pode custar muito dinheiro.

A verdade que todos sabem mas ninguém tem a coragem de dizer, é que nem todos os pilotos estão no mesmo nível. Alguns trabalham com um orçamento milionário e outros com apenas alguns "trocados". Para um piloto de dragster o custo das viagens é uma fração pequena do orçamento, mas talvez para um piloto de uma categoria bem mais lenta, o custo supere em muitas vezes o orçamento do ano.

Fica claro que um campeonato brasileiro não é para todos. E de nada adianta um campeonato brasileiro no qual somente os pilotos locais disputem a etapa de sua região, pois assim não seria nada além de um campeonato de provas locais.

Então qual a solução?

Bem, sinceramente essa questão cai muito fora do meu espectro de atuação. Eu apenas olho a estrutura que existe e fico pasmo ao imaginar que alguém em sã consciência possa achar que é possível fazer um campeonato brasileiro com a divisão por categorias que hoje existe.

Mas porque estou tratando desse assunto, que é um problema para daqui a dois ou três anos?

Porque esse é um problema dos profissionais e dessa vez é sem aspas mesmo. Toda essa nova estrutura física do esporte, todos esses empreendimentos, terão de interagir entre si e organizar uma forma de competição real, que empolgue o público, ou então realmente vai existir uma crise financeira real e concreta no esporte.

Isso não é problema para pilotos amadores que correm por prazer. Isso não é um problema da Associação Desafio.

Muito se tem falado sobre a Associação Desafio agir profissionalmente, buscar uma forma viável de competição que tenha apelo ao público e resgate a alma do esporte, que foi perdida nesse atual sistema de "concurso de tempos" e essa danosa cultura do recorde.

Muito se tem falado do orgulho dos pilotos amadores em fazerem parte de um grupo organizado que recebe o reconhecimento do Velopark e de todo um círculo amador das arrancadas como espectadores já fidelizados, patrocinadores e os próprios pilotos que participam das provas.

E muitos tem se preocupado demais com esses acontecimentos, achando que a Associação Desafio tem a pretensão de ser a "salvação" da arrancada "profissional", ou qualquer outra coisa do gênero, que é dita em tom de rancoroso deboche.

Pois bem, que fique então claro: A Associação Desafio é, e se orgulha de ser uma entidade amadora e não tem a pretensão de ser a salvação de nada, muito menos de um esporte que é enorme e cresce a cada dia mais. A Associação Desafio sempre trabalhou duro para que exista uma base organizada para o esporte, que é a arrancada amadora. E nisso, está obtendo um grande sucesso, através da persistência, do trabalho, da visão e do planejamento.

Contudo, há uma outra questão. Não adianta dar a César o que é de César, se ele não consegue se organizar para receber. A arrancada dita profissional está aí e não dá sinais de que irá se organizar para enfrentar as novas condições de MERCADO que já estão se apresentando hoje, mas deverão ficar muito mais intensas no médio prazo.

O pacote de entretenimento é fraco e se atrai algum público, é por conta de a arrancada em grandes dragways ser uma novidade. Mas em algum tempo esse fator se dissipa e será preciso um evento que forneça atrações mais sólidas para manter as arquibancadas cheias. Além disso, o formato atual é demasiadamente confuso e inapropriado para transmissão televisiva, que é o grande ponto de partida para um esporte se tornar grande. Existem categorias demais e competição de menos.

Nós da arrancada amadora nada temos a ver com esse problema, pois nosso evento sempre será de caráter regional. Entretanto, estamos unidos e preocupados com a viabilidade financeira do NOSSO pacote. Estamos preocupados com o que o público pensa e queremos melhorar o espetáculo que oferecemos, apesar de um evento amador ser sempre muito mais orientado para o piloto do que um evento profissional. Estamos trabalhando para melhorar, dentro da nossa realidade.

A conclusão é: Estamos fazendo nosso dever de casa e isso vem dando muitos resultados positivos. E vocês senhores "profissionais"? O que tem feito para adequar o esporte ao futuro que está cada dia mais próximo? Ao menos já pararam para pensar que as coisas vão mudar? Que estão mudando? Quando foi a última vez que fizeram uma autocrítica enquanto grupo?

A Associação Desafio não tem o objetivo de fazer com que a arrancada amadora seja mais importante que a profissional, mas infelizmente a arrancada profissional não parece estar fazendo nada para se tornar aquilo que pode vir a ser. De fato, enquanto profissionais estão muito aquém dos amadores em organização.

Todos os pilotos "profissionais", federados ou "de categorias", deveriam pensar nisso antes de criticarem o que os amadores hoje fazem. Pois ser amador não significa ser inferior e certamente não significa ser desorganizado. O simples fato de alguém estar cogitando que a arrancada amadora está se tornando mais importante que a profissional por si só já é um grande demérito para aqueles que imaginam fazer parte da elite do esporte. E não vai ser fazendo os amadores retrocederem que os "profissionais" vão se tornar mais importantes.

A questão hoje é: Se querem ser reconhecidos como uma classe acima, tratem de começar a agir como tal. E seria um bom começo parar de criar confusão com os amadores e começar a se preparar para o futuro.

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